Hoquei Lisboa: Luís Moreira, a última entrevista como técnico das selecções da APL

Este blog não oficial pretende simplesmente acompanhar e apoiar a Selecção de Iniciados da Associação de Patinagem de Lisboa, na 36ª Edição do Inter-Regiões 2012, no Estoril. Os textos nele inserido traduzem a opinião de quem o escreve e não o vincula a nada nem a ninguém. Os espaços para comentários, terão de passar antecipadamente pelo gestor. Aceitam-se sugestões e apoios a fim de tornar este blog, um veículo de informação a todos os que não possam estar e queiram acompanhar mais directamente este evento.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Luís Moreira, a última entrevista como técnico das selecções da APL



 O sucesso é bastante efémero...

Tivemos o privilégio de partilhar momentos de grande intensidade desportiva nos últimos 4 anos, com um homem importante do hóquei juvenil português, abriu-nos sempre as portas da sua “oficina” e agora abre-nos o do seu coração.

Tikinho é uma referência do hóquei juvenil português, explica-nos o seu sucesso em entrevista ao OKLisboa num momento em que chega ao fim um projecto de 4 anos na APL.

 OkLisboa: Como aparece o Luís Moreira no hóquei?
Boa tarde Nuno, apareço no hóquei porque tinhas alguns colegas da praceta aonde vivia( perto do antigo Dramático de Cascais) que praticavam a Modalidade e achavam que eu deveria deixar as outras actividades desportivas (futebol, basquetebol, andar de skatee Rugby) para ir experimentar andar de patins porque tinha jeito para andar deskate, e achavam que não ia ter dificuldades a aprender a andar de patins. E assim, iniciou o meu percurso nas Escolinhas do Dramático de Cascais com o Fernando Vieira (actualmentena Salesiana) e posteriormente com o António Pinto (Tony do SLB).

 OkLisboa: Como jogador e treinador qual foi o seu percurso?
O meu percurso de jogador foi mediano, ainda que numa fase da minha formação estive nas selecções Distritais da APL e fui a alguns estágios das Selecções Nacionais, mas como tinha uma vida bastante ocupada, trabalhava, estudava e comecei a treinar equipas da iniciação/Escolares/Infantis do Cascais mais ou menos com 15 anos,aos poucos o foco foi para o treino e menos para jogador. Contudo ainda cheguei aos Seniores do Cascais, até que houve uma altura que aceitei o convite do Parede Futebol Clube para treinar Infantis C (atletas como Gaspar, Lopes, entre outros) e infantis B (André Ferreira, Alexandre Ferreira, Rafael Rocha, Miguel Rocha, entre muitos outros), e o meu treinador de Seniores na altura, disse-me que tinha de tomar uma opção, ou continua no Cascais como jogador ou ia para o Parede como treinador, e aí tomei a opção de ser treinador e abandonei a modalidade enquanto jogador, tinha mais ou menos 22 anos.

O meu percurso de treinador começou no Cascais com 15 anos, a treinar as Escolinhas, depois Escolares,Infantis e Iniciados, aonde foi possível realizar um trabalho bastante interessante com algumas conquistas como títulos de Encontros Nacionais e Finais Four, passei depois para o Parede aonde treinei Benjamins, Escolares e Seniores Femininos; Época seguinte CD Paço de Arcos num grupo de trabalho das equipas de alta competição (Juvenis/Juniores e Seniores) em que treinei os Juniores sobre a Coordenação do Luís Duarte; Voltei a Cascais para treinar os iniciados e a meio da época fui substituir o Pedro Nunes que tinha saído para o Porto Santo, nos Juniores do HC Sintra. E desde há 5 épocas que estou no Sporting aonde treinei iniciados, Juvenis e Juniores, acumulando nos últimos 4 anos as funções de Director Técnico Regional Masculinos e Seleccionador Distrital da equipa de Iniciados Masculinos da Associação de Patinagem de Lisboa.

OkLisboa:  Ser treinador foi acidente, ou foi um chamamento interior depois de uma carreira discreta, onde sentiu que poderia dar ainda mais à modalidade?
Como afirmei acima, a minha personalidade, atitude competitiva, acabou por levar-me ao treino aos 15 anos porque na altura os Dirigentes do Cascais e treinador dos Seniores que era o Coordenador (Jorge Vicente) acreditaram num miúdo de 15 anos que demonstrava uma atitude e personalidade que poderia ser interessante para iniciar a carreira  treinador. sobre a Coordenação do Treinador de Seniores. Não digo que foi um chamamento interior, foi uma oportunidade que alguém viu em mim, e que fui aprendendo e aproveitando o que tinha de bom e de mau a função.

OkLisboa:  Qual o segredo de tanto sucesso e títulos nas camadas jovens do hóquei em patins?
 O sucesso está intrinsecamente ligado à qualidade e competência dos atletas, da direcção, pais e staff que meacompanhou nestes anos todos. Já alguma uma vez disse: O único lugar aonde osucesso está primeiro que trabalho, é no dicionário. O sucesso é isso mesmo,trabalho, trabalho e muito trabalho em que algumas vezes temos a sorte detrabalhar com pessoas altamente dedicadas, eficientes, competentes e leais,alicerçadas também numa pontinha de sorte! Mas o sucesso, é bastante efémero, epor vezes, estas variáveis não acontecem em simultâneo e não temos sucesso, ouacontecem quase todas, e faltando também uma pontinha de sorte, que se trabalhae se procura, deixa de existir sucesso desportivo/resultados.

OkLisboa :Porque também é importante questionar o que é o sucesso? Como ele é medido?
Apenas pelos títulos? Apenas pelos resultados quantitativos? Ou também falamos de sucesso como uma conjuntode variáveis quantitativas qualitativas, em que a variável titulo não tem umaponderação quase de 100%? Por isso, o que posso dizer, é que em determinadosmomentos, tive a felicidade de um conjunto de variáveis terem-se encontrado nomomento ideal que me permitiram ser o timoneiro de equipas que conseguiramalguns títulos interessantes

OkLisboa:  Há quem diga que a qualidade das selecções temvindo a decrescer, mas resultados e exibições dizem o contrário?
Essa é uma questão interessante.Quando se fala da qualidade estar a decrescer, penso que se fala de determinadotipo de atletas com determinadas características que se tem vido a perder deano para ano. Não vejo que a qualidade esteja a decrescer, existem é maisatletas com características mais homogéneas (capacidade física acima da média,envergadura, etc.) ao contrário do que havia anteriormente em que apareciammais atletas com grande qualidade tanto na técnica da patinagem como no manejodo stick (os chamados "mágicos" e artistas). Mas isso, penso queacontece por questões de alterações e adaptações que a própria sociedadedesportiva tem vindo a sentir, e não só na nossa modalidade. É verdade queacabamos por analisar a variável resultados/exibições colectivas em detrimentode variáveis como qualidade e técnica individual e nesse aspecto, a selecção deLisboa tem vindo a melhorar nos últimos 8 anos, que culminou na conquista doInter-regiões esta época desportiva. Em jeito de conclusão, e tendo em conta aminha união, o número de atletas com qualidade técnica individual/ mágicos éque tem diminuído ao longo dos anos.

 OkLisboa:  Partilha da opinião que a Norte o hóquei é maisfísico, e a Sul o hóquei é mais técnico?
Hoje em dia não partilhodessa opinião, alias até penso que actualmente no Norte tem dado mais primaziaà qualidade técnica individual dos atletas do que às equipas do Sul dizrespeito. Penso que a utilização da questão hóquei mais físico prende-se comuma interpretação mais larga das regras por parte dos árbitros do Norte que fazcom que os jogadores tenham maior agressividade na disputa dos lances, e isso,faz com que o desenvolvimento das componentes físicas seja mais evidente.

OkLisboa:  Que balanço faz de cada uma das quatro selecçõesdos 4 anos em que foi seleccionar Regional.
Caro Nuno, esse balanço mais detalhado fi-lo nos relatórios enviados à Direcção da APL, mas posso dizer queforam 4 anos fantástico na APL, com grande atitude e entrega dos 40 atletas queestiveram nos 4 Inter-Regiões, mas muitos mais foram avaliados, em que tivemosa felicidade/sorte  nesta última Edição,  que nos faltou nos últimos 3 anos, em que conseguimos 2 finais perdidas na lotaria das grandes penalidades e um  3º lugar na Mealhada. Só posso fazer um balanço brutal se avaliarmos as variáveisquantitativas e qualitativas ao longo destes 4 anos.

 OkLisboa:  Dos 40 jogadores que passaram pelas suas mãos e seleccionados por si, faça o seu 10 ideal?
Poderia fazê-lo mas não é um exercício fácil nem correcto para os outros 30 que ficariam de fora.

 OkLisboa:  O seu futuro passa pela continuidade na selecçãoda APL, ou fecha-se aqui um ciclo?, Projectos?
O meu futuro não passará pela continuidade na APL enquanto Seleccionador Masculino, mas poderá passarpor outras funções. No entanto, só após o terminar da época desportiva emcurso, iremos abordar mais em detalhe esse tema. Mas como seleccionador Masculino, fechou-se o ciclo. Felizmente têm existido alguns convites, algunsmais interessantes que outros, mas também ainda represento o SCP como treinador, por isso assim que terminar a época desportiva, e com calma, falei aavaliação do meu percurso enquanto treinador nos últimos 4 anos, e analisarei oque fazer no futuro, se continuo ou não na modalidade, e se sim, em que tipo deprojectos.

OkLisboa: A seu ver, o que falta ao hóquei nacional juvenil para acabar com a hegemonia europeia e mundial da Espanha?
Penso que o que tem faltadoé um pouco de sorte nos momentos decisivos, apenas isso. Acredito e sei que noseio das Selecções temos pessoas com grande competência e que vão ao maispequeno detalhe para conseguir atingir resultados quantitativos, i.e, Títulos,e a verdade seja dita, é que nos últimos 5 anos, temos conseguido bastantes Títulosno Hóquei Juvenil, e acredito que com a mesma persistência e qualidade detrabalho, muitos mais estão para vir, e começaremos a voltar a ter a hegemoniaque outrora foi de Portugal.

OkLisboa:  Qual foi a sua maior alegria e a sua maior tristeza enquanto treinador e jogador?
- Maior alegria como treinador: Quando no final de um jogo que nos deu um titulo, um dos meus jogadores ter-se abraçado a mim e ter dito: Obrigado por tudo o que me ajudou e me marcou ao longo destes anos, e estarei grato e serei seu amigo para o resto da vida.
 - Maior alegria como jogador:Primeira vez que o defendi um Livre Directo. Era a minha maior especialidade, defender livres directos, porque no resto, era mediano.
 - Maior Tristeza como treinador: Todas as vezes que tive de dizer a atletas das selecções ou dos clubes por onde passei, que não iriam continuar connosco numa competição ou na próxima época.
- Maior tristeza como jogador: Quando, me obrigaram a decidir entre ser jogador ou treinado

OkLisboa: Quer aqui deixar uma mensagem a todos os quetrabalham no hoquei em patins em formação?
Que acima de tudo, continuem a procurar melhorar no dia a dia no Hóquei em Patins, porque só teremos atletas de qualidade se também tivermos agentes com mais competência, mais formação,mais disciplina e mais independentes na acção diária nos clubes e organismos.

OkLisboa: Se lhe pedissem a sua opinião sobre o que há melhorar na formação, para a modalidade tornar a ter o esplendor de outros tempos, enumere 5 medidas importantes a serem tomadas.
Podería escrever muito sobre isso, porque todos nós temos sempre medidas para ajudar a melhorar amodalidade, mas para mim, o mais importante, é conseguirmos tornar o hóquei empatins um espectáculo de entretenimento mais atractivo para as pessoas, é ofoco principal do meu ponto de vista. Porque só conseguiremos melhorar aformação, tornar a ter mais atletas, se conseguirmos realizar uma divulgação damodalidade de um modo impar, por isso também irá atrair mais e melhores Gestores Desportivos, mais e melhores formadores, mais e melhor publicidade, mais emelhores investidores, logo mais e melhor atletas e mais e melhor esplendor danossa modalidade. Vejamos exemplos do Rugby e do Futsal nos últimos anos.


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Termina aqui o trabalho do OkLisboa no Inter-Regiões 2012.
Voltaremos para o ano, sempre com a mesma dinâmica de fazer um trabalho diferente, que possa ir até si com uma visão particular do hóquei,que não é só competição.
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Parabéns aos Campeões AP Lisboa 2012!!!
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Ao Nuno de Sousa e ao Carlos Lopes, o nosso obrigado pelo trabalho ímpar desenvolvido.
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